EOX 240 é a mais longa maratona BTT organizada em Portugal, que se desenvolve em linha ao longo de 240 km, juntando duas extremidades Este (VV Ficalho) e Oeste (Zambujeira do Mar) deste nosso jardim à beira do mar plantado. Com lotação reservada para apenas 100 atletas, insere-se num conceito de Ultra maratonas de BTT explorado pela empresa Trilhos Vivos, que apresenta no seu leque de provas o SRP 160, e o SUDOEX, sempre desenroladas por terras alentejanas ou algarvias. Provas estas que fazem sempre parte do imaginário de qualquer betetista que se preze.
Perfil da prova
Ora, faltando-me uma serie de parafusos na cabeça…, tenho colocado anualmente uma ultra maratona no calendário, por desafio de superação pessoal. No ano passado 2012, fui “finisher” do SRP160, e este ano pretendia cometer proeza maior e tentar os 240 km.
Desde o principio do ano que tinha empenhado a minha palavra junto de 2 bons e corajosos amigos, para dividirmos as despesas que tal deslocação implica, e também poder ter o indispensável apoio da minha incansável directora desportiva, ao longo do percurso.
Assim, o homem pensa, e obra nasce… e então, no passado dia 14 de Junho rumámos 5 almas no meu bote, até Vila Verde de Ficalho, junto à fronteira com Espanha, bem dispostos, mas ainda sem imaginar como seria um daqueles fins de semana que por mil anos que se viva, jamais se esquecerá.
Secretariado
E a viagem decorreu sempre sob o signo da boa disposição contagiante do amigo Couto e do Kiko, de tal forma que não demos pelos mais de 500 km de viagem até ao secretariado instalado no parque desportivo de Vila Verde de Ficalho. Jantar em Pias, no espectacular restaurante O Adro, e caminha num alojamento de agro-turismo perdido na típica paisagem alentejana, entre estas localidades.
Alojamento…
Cabe agora aqui confessar que a minha expectativa para a prova não era muito alta, pois a completa ausência de treinos durante os meses de Março e Abril, por lesão, dificilmente me permitiria levar a cabo tamanha façanha, mas tinha a remota esperança de que o percurso fosse macio o suficiente para me poder aguentar no máximo de km possíveis.
Guerreiros
A ideia que tinha era que qualquer um dos meus companheiros de jornada estava bem melhor preparado que eu, e isso veio logo a confirmar-se logo após a partida pelas 6 horas da manha, não sem que antes, pudéssemos trocar curtas impressões com o pessoal da Ecobike presente, e outros camaradas do Norte.
O ritmo do pelotão foi desde logo bem vivo, tipo maratona, e na tentativa inconsciente de tentar não ficar logo para trás, percebi que estava no meio de um leque de atletas em grande momento de forma…
@ ZA1
Os meus companheiros de jornada, cedo se aperceberam que o ZeNiGhT, não os iria ajudar grande coisa, e mesmo assim ainda foram tendo a paciência de vir comigo a passo de caracol…, mesmo estando eu a pedir-lhes que se fossem embora no seu melhor ritmo. Para ajudar, a transmissão da KTM, decidiu dar problemas, e foi já com perto de 4 horas que chegamos a Serpa (ZA1), com perto de 60 km percorridos. Esta paragem pretendia ser curta, mas como a minha bike ficou entregue aos cuidados de um mecânico que com dificuldade lá a conseguiu pôr a meter as mudanças, no entanto sem grande precisão, e acabámos assim por perder preciosos minutos.
Avarias
Aproveitando as longas rectas na saída de Serpa, lá seguimos sempre com o máximo que eu podia dar, até ao meu “estouro” final por volta do km 110. Por esta altura, o calor ia ditando a sua lei, e a esmagadora tranquilidade da planície alentejana, ia criando fantasmas na minha cabeça… os longos quilómetros debaixo de escaldante sol, a ausência completa de vida humana, e um silêncio atroz, que embelezado por paisagens únicas, tornavam a coisa particularmente diferente de tudo aquilo onde já pedalei…
Por esta altura, já os colegas de jornada, após os meus insistentes pedidos, voavam em direcção a Entradas… (ZA2) ao km 120, para poderem entrar dentro do controlo de tempo.
Entradas, que para mim foram “Saídas”, pois foi cheinho de caimbras nas pernas que ali cheguei e não me restava nada mais do que encostar à boxe, atirar-me para o agradável relvado, e tentar colocar as pernas em condições de pelo menos conseguir andar…em pé… após 8 horas a pedalar…
Entradas… para sair da prova… 😦
Começa aqui mais uma odisseia que só viria a terminar perto da meia noite…
Amigo KiKo lembra-se de enfrascar quantidade exagerada de coca cola, e logo a sua tripa começou a dar sinais de que não tinha gostado muito da ideia. Amigo Couto sempre em forma, come uma boa pratada de macarrão preparado pela minha directora desportiva e bem disposto, parte com o já fragilizado KiKo, rumo à ZA3…
É a altura de eu passar de concorrente a assistente e após recomposto, almoçado, e minimamente lavado, partir para a ZA 3 para esperar os sobreviventes. Por esta altura, já emprestava os meus serviços à organização, e trazia um camarada do pedal que acabou também por desistir após perder o cleat do sapato no rio, e havia regressado novamente à ZA2…
Com o pico do calor, chegamos à ZA 3 na Aldeia das Amoreiras, e chega um telefonema do amigo Couto a informar que o KikO se encontrava mal, e que já não conseguia continuar…sucede que o amigo Couto, não tem GPS, e não consegue lidar com o do Kiko…
Sucede que o amigo Couto, ainda tem menos parafusos que eu… e decide arranjar “boleia” com uma dupla de participantes que vinha já algo atrasada…
mai nada @ZA4
Sucede que temos que despejar o nosso “passageiro”, e entrega-lo aos cuidados da (des)organização… para ir pegar o Kiko e tentar regressar a tempo de assistir o Couto…, feito que conseguimos, e tratamos de motivar o único guerreiro em prova…
Sucede que o amigo Couto se mostra bem mais rápido do que os seus colegas de GPS, e vê-se obrigado a aturar as birras de um deles… sucede que o ritmo ia diminuindo cada vez mais, e foi já na queima que controlaram na última ZA.
Aqui, o amigo Couto apareceu muito bem disposto, e após curto descanso lá partiram para os 40 km finais, com a janela de tempo a encurtar cada vez mais…bem como a luz natural que rapidamente se esgotou… obrigando ao esforço de fazerem longos km com a luz das bikes no meio da escuridão alentejana.
Aqui, também o amigo Kiko, já recuperado, vai repondo os níveis de queijo e vinho alentejanos…e eu durmo …bebo umas minis, e como tremoços…
Garrafa de champagnhe comprada, e bora lá para Zambujeira do Mar, check-in no hotel, banho, jantar a correr, e verdadeiro rali por estradão de terra até à praia do Carvalhal, para apanhar ainda os 3 bravos resistentes, garrafa de champagnhe aberta para dar banho aos guerreiros que chegaram uns minutos antes da meia noite… Absolutamente alucinante!!! Só visto!
Fim de prova!
Grande alegria por ver o amigo Couto terminar esta impressionante odisseia, e poder observar uma verdadeira força da natureza, foi uma lição que tão cedo não esquecerei.
Perdoem os leitores, mas o tamanho deste relato tem que ser proporcional à distancia do evento… 😉
Uma palavra final para a organização que teve aspectos positivos, como a qualidade da informação prestada nos guias de prova, e dos acompanhantes, mas, no todo o resto, foi uma grande desilusão, por ser uma coisa tão “fraquinha” que impressiona. É certo que a natureza da prova é bem diversa de uma comum maratona, e que quem participa sozinho deve ir consciente, e preparado para o risco que vai correr, mas fiquei com a sensação de que cada um estava entregue a si próprio. Não havia ninguém a “fechar” o percurso, acho que podiam arranjar motas ou bicicletas…entre ZA’s para acompanhar os últimos, pois alguém sempre estará nesta posição… O homem que estava na ZA2… que abalou sabendo que havia alguém para trás…
A alimentação fornecida pareceu-me escassa, e de recordação trago apenas as memórias vividas e fotografadas, 70 euros gastos na inscrição…, e a escuridão desoladora de quando terminou a prova, bem como a pressa para encerrarem o pano…
Participei, e foi para mim mais uma vitória. Não terminei, mas ficará sempre na memória.
A equipa completa
Um obrigado especial aos meus companheiros Kiko e Couto! À Sónia e à minha querida directora desportiva, que está sempre onde eu chego, e sempre para onde vou…
Registos do meio EOX… 😉
O percurso óptimo para a família… no .
O meu registo
Fotos no
Altimetria: